CAPÍTULO 10
Adeus ranchinho
1961, nove (09) anos de idade,
ora de mudar para cidade e estudar. Alguém mais se interessou.
Lembram-se do negão que casou com
minha irmã branquela, a mais velha e que se tornou meu padrinho de batismo? O
Antônio Bento, que me deu a tal piorrinha colorida! Pois é, ele se mudou da
cidade do Lagamar onde curti minha catapora para a pequena Lapa, hoje Vazante
nome que recebeu mais tarde quando ela se tornou município emancipado.
Pois é, lá veio minha irmã
madrinha e meu cunhado padrinho
convidando eu e minha mãe para morar com eles na pequena Lapa, pois eu
precisava estudar e até então nunca tinha sequer visto uma escola, ou uma
professora. Fazer o que, minha mãe foi e eu juntos para uma nova vida. Não sei bem o que sentia, era ao mesmo tempo uma
sensação de aventura e de apreensão, medo do desconhecido, de abandonar minha vidinha caipira ..... Ah
seja lá o que Deus quiser, pensei.
Pedro Eustáquio era meu nome de
batismo.
Sabem de uma coisa? Eu era
batizado com o nome de Pedro Eustáquio. Mas nem certidão de nascimento eu
tinha! Só o Batistério – documento emitido pela Igreja Católica, quando alguém
é batizado!
Cadê o pai?
Mas para entrar na escola eu
precisava de um registro. Foi então que aos 09 anos de idade fui levado ao
cartório para registro. Mas cadê o pai? Bem, eu tinha, mas não tinha, né?
Afinal era segredo! Então ficou assim meu registro: Pedro Alves da Silva, filho
NATURAL de Ana Alves Pereira. Minha curiosidade foi sempre para saber se eu não
fosse filho natural de Ana Alves, eu era filho o quê? Hoje, casados ou não os pais, seus nomes
devem constar na certidão.
Pedro Alves da Silva
Aqui começa uma nova história do Pedro
Alves da Silva, que então foi finalmente registrado e matriculado numa escola
pública chamada Grupo Escolar Cândido Ulhoa do pequeno vilarejo chamado de
Lapa, hoje cidade de Vazante.
Por que Lapa e depois Vazante?
O vilarejo chamado LAPA surgiu
porque alguém teria visto uma santa dentro de uma gruta, que foi popularizando
como milagrosa. Para aquele que teve a primeira visão e depois os fieis, quem
apareceu foi Nossa Senhora e da Lapa porque foi naquela gruta chamada de lapa
de pedra. A fé começou a trazer romeiros não só do município, mas de longe,
sendo muitos até hoje do Estado de Goiás, principalmente Catalão. Durante
muitos anos os romeiros chegavam em dezenas de carros de bois que desfilavam
pelas entradas da cidade, cada um com sua cantiga e no coração do povo aquela
verdadeira emoção. Até os dias de hoje se recebe grande quantidade de romeiros
para os dias principais de 1 a 3 de maio. Antes, até o dia 30 de abril ocorrem
as novenas, que são verdadeiras festas diárias.
Hoje os carros de bois não podem entrar na cidade, devido ao asfalto e
por isso, no lugar, desfilam veículos automotores que entopem as ruas da cidade.
A festa é boa. Com a emancipação do município, nasceu a cidade de Vazante, incrustada entre morros que formam uma
vazante.
Só amarrado
Fomos morar bem de frente ao
primeiro campo de futebol da cidade, onde hoje fica o Colégio Pedro Pereira. Na
roça eu era um bicho do mato e a não ser quando
cumpria as tarefas dadas por minha mãe eu ia pro mato com meu estilingue
e ali andava horas jogando pedras nos pobres passarinhos. Na rua eu descobri a bola e fora da escola,
lá estava eu sob o sol quente correndo atrás de uma. Estudar que nada, o
negócio era brincar, brincar e brincar.
Minha mãe lutava para me manter em
casa, mas era só ela distrair lavando roupas o capetinha atentava e eu
escafedia no mundo. Foi então que ela, enquanto lavava e passava, arranjou uma
solução que hoje coitada, seria crime. Ela arrumou uma corda e me amarrava no
esteio da casinha de serviço sob sua vista. Imagine um bichinho selvagem
amarrado e de longe escutando o barulho de uma bola! E Eu dava uma de esperto:
mãe quero ir na privada (hoje é banheiro)! Enganei ela só uma vez. Das outras
ela ia comigo e eu me lascava porque não queria fazer nada mesmo. O pior, é que
mesmo sendo aquilo uma tortura, eu levava na brincadeira e minha mãe nem me
batia muito, já que ela acabava rindo das minhas palhaçadas.
Meu padrinho e o jipe
O padrinho, Antônio Bento, como
já disse era de cor negra, na verdade de longe chegava a ser quase azul. Tocava
sanfona 08 baixos, era farrista e um negociante avançado para seu tempo. Não
demorou e certo dia chegou em casa com um jipe. Aquele jipe me lembrou de
quando sofri varicela e fui socorrido por aquele do fazendeiro Hilário,
lembra-se? Nunca fiquei tão religioso.
Todas as noites que ele dia ir à missa, lá estava eu e meus dois sobrinhos,
José e João curtindo o passeio. Que maravilha ir a igreja na missa noturna,
andando naquela máquina maravilhosa. O padrinho? Era barbeiro!!! Mas isso não
importava. Tinha alguém ali preocupado? Que nada o chique era curtir o jipe.
Mais tarde, quando mudamos para
perto do foro de hoje, o meu padrinho havia trocado o jipe por um caminhão e
agora o chique era ter o vento batendo no rosto. Como já disse meu padrinho
tinha dois filhos: José e João. Jose
igualava idade comigo o e João era mais novo dois anos e meio. Já com o caminhão o padrinho intimou a todos
para buscar lenha na lá perto do indaizinho, mais precisamente de frente a fazenda
hoje do Elmiro. Ali chegando, encostou o
caminhão e disse: - encham o caminhão enquanto vou até a sede da fazenda. Garotos trabalhadores, corríamos daqui e dali
no cerrado do pé da serra para se apressarem na tarefa. Cansados, nos lembramos
que não levamos água; famintos, o pai e padrinho não
retornava! Ele havia subido o morro e descambado sei lá pra onde. Onde era a tal sede? Subimos o morro e de lá
nada enxergamos. Olhamos as pequenas grotas e água nenhuma foi vista. Melhor não andar muito, pois a sede aumentava.
De volta recostamos numa sombra e ali esperamos. Finalmente ele chegou. Com um baita queijo
fresco e biscoitos de goma. Mas... comer como? Não havia nem mais saliva e o
sal... todos entramos no caminhão e
exceto uma lasquinha aqui, outra ali, foi preciso esperar chegar em casa para
estourar a barriga com água. Suspeita-se
que aqueles garotos não estavam com tanta disposição para trabalhar e sim para
andar de caminhão, pois sempre fugiram de outros convites daquela
natureza. Dona Ana? Estava lá firme e
agora com um problema: vez ou outra tinha que amarrar o Pedro no esteio,
enquanto lavava roupas, para que este saísse da rua. Era tão divertido!!!
Escola Estadual Cândido Ulhôa
Aos nove anos, fui matriculado e
começava minha alfabetização. Alguma coisa ocorreu que não consigo me lembrar
de muita gente. Mas posso me lembrar da professora Lazara, se não me engano
esposa do Sezostre Belo (não sei se escrevi correto), de Dona Conceição,
diretora da escola e depois minha professora no ginásio e dona Nedina, famosa
na nossa sopa do intervalo. Verdade, até hoje sinto saudades daquela sopa
quentinha. Quem sabe antes de fechar este livro, não me lembro de outros
detalhes, não é?
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