segunda-feira, 8 de julho de 2013

Pedro e sua história Capítulo 10



CAPÍTULO 10


Adeus ranchinho

1961, nove (09) anos de idade, ora de mudar para cidade e estudar. Alguém mais se interessou.

Lembram-se do negão que casou com minha irmã branquela, a mais velha e que se tornou meu padrinho de batismo? O Antônio Bento, que me deu a tal piorrinha colorida! Pois é, ele se mudou da cidade do Lagamar onde curti minha catapora para a pequena Lapa, hoje Vazante nome que recebeu mais tarde quando ela se tornou município emancipado.

Pois é, lá veio minha irmã madrinha e meu cunhado padrinho  convidando eu e minha mãe para morar com eles na pequena Lapa, pois eu precisava estudar e até então nunca tinha sequer visto uma escola, ou uma professora. Fazer o que, minha mãe foi e eu juntos para uma nova vida. Não  sei bem o que sentia, era ao mesmo tempo uma sensação de aventura e de apreensão, medo do desconhecido,  de abandonar minha vidinha caipira ..... Ah seja lá o que Deus quiser, pensei.

Pedro Eustáquio era meu nome de batismo. 

Sabem de uma coisa? Eu era batizado com o nome de Pedro Eustáquio. Mas nem certidão de nascimento eu tinha! Só o Batistério – documento emitido pela Igreja Católica, quando alguém é batizado!

Cadê o pai?

Mas para entrar na escola eu precisava de um registro. Foi então que aos 09 anos de idade fui levado ao cartório para registro. Mas cadê o pai? Bem, eu tinha, mas não tinha, né? Afinal era segredo! Então ficou assim meu registro: Pedro Alves da Silva, filho NATURAL de Ana Alves Pereira. Minha curiosidade foi sempre para saber se eu não fosse filho natural de Ana Alves, eu era filho o quê?  Hoje, casados ou não os pais, seus nomes devem constar na certidão.   

 Pedro Alves da Silva

Aqui começa uma nova história do Pedro Alves da Silva, que então foi finalmente registrado e matriculado numa escola pública chamada Grupo Escolar Cândido Ulhoa do pequeno vilarejo chamado de Lapa, hoje cidade de Vazante. 
Por que Lapa e depois Vazante?

O vilarejo chamado LAPA surgiu porque alguém teria visto uma santa dentro de uma gruta, que foi popularizando como milagrosa. Para aquele que teve a primeira visão e depois os fieis, quem apareceu foi Nossa Senhora e da Lapa porque foi naquela gruta chamada de lapa de pedra. A fé começou a trazer romeiros não só do município, mas de longe, sendo muitos até hoje do Estado de Goiás, principalmente Catalão. Durante muitos anos os romeiros chegavam em dezenas de carros de bois que desfilavam pelas entradas da cidade, cada um com sua cantiga e no coração do povo aquela verdadeira emoção. Até os dias de hoje se recebe grande quantidade de romeiros para os dias principais de 1 a 3 de maio. Antes, até o dia 30 de abril ocorrem as novenas, que são verdadeiras festas diárias.  Hoje os carros de bois não podem entrar na cidade, devido ao asfalto e por isso, no lugar, desfilam veículos automotores que entopem as ruas da cidade. A festa é boa. Com a emancipação do município, nasceu a cidade de Vazante, incrustada entre morros que formam uma vazante.

Só amarrado

Fomos morar bem de frente ao primeiro campo de futebol da cidade, onde hoje fica o Colégio Pedro Pereira. Na roça eu era um bicho do mato e a não ser quando  cumpria as tarefas dadas por minha mãe eu ia pro mato com meu estilingue e ali andava horas jogando pedras nos pobres passarinhos.  Na rua eu descobri a bola e fora da escola, lá estava eu sob o sol quente correndo atrás de uma. Estudar que nada, o negócio era brincar, brincar e brincar.

Minha mãe lutava para me manter em casa, mas era só ela distrair lavando roupas o capetinha atentava e eu escafedia no mundo. Foi então que ela, enquanto lavava e passava, arranjou uma solução que hoje coitada, seria crime. Ela arrumou uma corda e me amarrava no esteio da casinha de serviço sob sua vista. Imagine um bichinho selvagem amarrado e de longe escutando o barulho de uma bola! E Eu dava uma de esperto: mãe quero ir na privada (hoje é banheiro)! Enganei ela só uma vez. Das outras ela ia comigo e eu me lascava porque não queria fazer nada mesmo. O pior, é que mesmo sendo aquilo uma tortura, eu levava na brincadeira e minha mãe nem me batia muito, já que ela acabava rindo das minhas palhaçadas.

Meu padrinho e o jipe

O padrinho, Antônio Bento, como já disse era de cor negra, na verdade de longe chegava a ser quase azul. Tocava sanfona 08 baixos, era farrista e um negociante avançado para seu tempo. Não demorou e certo dia chegou em casa com um jipe. Aquele jipe me lembrou de quando sofri varicela e fui socorrido por aquele do fazendeiro Hilário, lembra-se?  Nunca fiquei tão religioso. Todas as noites que ele dia ir à missa, lá estava eu e meus dois sobrinhos, José e João curtindo o passeio. Que maravilha ir a igreja na missa noturna, andando naquela máquina maravilhosa. O padrinho? Era barbeiro!!! Mas isso não importava. Tinha alguém ali preocupado? Que nada o chique era curtir o jipe.

Mais tarde, quando mudamos para perto do foro de hoje, o meu padrinho havia trocado o jipe por um caminhão e agora o chique era ter o vento batendo no rosto. Como já disse meu padrinho tinha dois filhos: José e João.  Jose igualava idade comigo o e João era mais novo dois anos e meio.  Já com o caminhão o padrinho intimou a todos para buscar lenha na lá perto do indaizinho, mais precisamente de frente a fazenda hoje do Elmiro.  Ali chegando, encostou o caminhão e disse: - encham o caminhão enquanto vou até a  sede da fazenda.  Garotos trabalhadores, corríamos daqui e dali no cerrado do pé da serra para se apressarem na tarefa. Cansados, nos lembramos  que não levamos  água; famintos, o pai e padrinho não retornava! Ele havia subido o morro e descambado sei lá pra onde.  Onde era a tal sede? Subimos o morro e de lá nada enxergamos. Olhamos as pequenas grotas e água nenhuma foi vista.  Melhor não andar muito, pois a sede aumentava. De volta recostamos numa sombra e ali esperamos.  Finalmente ele chegou. Com um baita queijo fresco e biscoitos de goma. Mas... comer como? Não havia nem mais saliva e o sal...  todos entramos no caminhão e exceto uma lasquinha aqui, outra ali, foi preciso esperar chegar em casa para estourar a barriga com água.  Suspeita-se que aqueles garotos não estavam com tanta disposição para trabalhar e sim para andar de caminhão, pois sempre fugiram de outros convites daquela natureza.   Dona Ana? Estava lá firme e agora com um problema: vez ou outra tinha que amarrar o Pedro no esteio, enquanto lavava roupas, para que este saísse da rua. Era tão divertido!!!

Escola Estadual Cândido Ulhôa

Aos nove anos, fui matriculado e começava minha alfabetização. Alguma coisa ocorreu que não consigo me lembrar de muita gente. Mas posso me lembrar da professora Lazara, se não me engano esposa do Sezostre Belo (não sei se escrevi correto), de Dona Conceição, diretora da escola e depois minha professora no ginásio e dona Nedina, famosa na nossa sopa do intervalo. Verdade, até hoje sinto saudades daquela sopa quentinha. Quem sabe antes de fechar este livro, não me lembro de outros detalhes, não é?

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