segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Pedro e sua história -- Capítulo 15




 Capítulo 15

 Lagoa dos japoneses – hoje atual rodoviária em PATOS DE MINAS

Meu padrinho mais parecia cigano e mais uma vez se mudou, desta vez para um bairro chamado Lagoa dos Japoneses, colado a vila dos operários. É claro que havia uma grande lagoa e nela muitos paturis, patos, etc., além de peixinhos como carás, traíra, etc. Pois bem moleques tentam tudo: nadar, pescar, pegar filhotes das aves e tudo que direito.  Na rua, em direção a lagoa, havia um açougue e muitas vezes, numa cena muito desagradável ali mesmo se matava o animal.  Um tal de Milton, matador e animais e certamente açougueiro, quando sangrava um boi por exemplo, aparava as mãos cheias de sangue e bebia descrevendo se estava mais ou menos salgado ou coisa assim. Aquilo era horrível e me chocava muito.  Mas brincar de soltar ou rodopiar as piorras de madeira (a gente chamava de piões – o paulistinha, o carioquinha!), era bom demais, além de jogar bolinhas de gude e Bilboquê ( “é um brinquedo antigo que consiste em uma esfera de madeira (ou de forma semelhante), com um orifício central, e presa por uma corda numa espécie de suporte”.).

Salve latinha: Também era fascinante brincar de salve latinha. Quem fosse sorteado começava a pegar e colocar o preso com a mão no poste e o próximo na mão do primeiro e o outro na mão do seguinte, até pegar todos. Esse pegar não era físico: toda vez que o pegar localizava um dos meninos corria até a base e batendo a latinha 3 vezes dizia: fulano está preso; se o fulano corresse mais que ele até a latinha ele próprio se salvava. Caso contrário, toda vez que prendia alguém ficava de olho na latinha que obrigatoriamente ficava na base, geralmente debaixo de um poste de luz, pois a brincadeira era noturna para que se pudesse esconder. O bairro era muito sujo ainda de moitas, árvores nativas, entulhos e muita poeira. Às vezes faltava somente um garoto para ser preso e ele, se arrastando pelo chão, correndo ou voando (ôpa), saltava sobre a latinha e gritava: salve latinha! E todos os presos se debandavam! Coitado de quem não fosse esperto, pois ficava quase a noite toda correndo atrás do prejuízo. Sim, se todos fossem presos, o primeiro seria a próxima vítima. E chegar em casa sempre era outro grande problema devido a sujeira que a gente chegava.

Pobres trabalhadores – sobrou prá eles.

Uma das ruas que ali passavam, viam do centro e outro bairros e atravessava direto para a Vila Operária. Detardezinha, quase noite, se ouvia o ruído forte de dezenas de bicicletas e murmúrios de muitos operários que voltavam do trabalho em grupos. Parecia o estouro de uma boiada Pois a molecada teve logo a maquiavélica idéia de queimar peneus velhos para deles extrairem o arame, que era desenrolado e esticado de algum poste na margem da rua até algum toco do outro lado.  Já pode imaginar né? Distraídos, os pobres operários que vinham a frente, de repente se embaraçavam e iam ao chão. Daí por diante era o efeito dominó até cair todos.  Menino veio, era um poeirão que levantava! E nós, aqueles malditos pivetes através das frestas de um muro qualquer mijavam de rir. Mas baixinho até que se levantassem e fossem embora soltando palavrões de toda sorte. Sorrisse alto ou saísse  lá fora pra ver! Mas isso não tinha graça nenhuma pra eles, coitados! O que as vezes ficava engraçado era no dia seguinte: os moleques malfeitores ficavam na rua para ver os operários passarem. Quando chegavam naquele ponto, paravam desciam e empurravam as bicicletas  observando  se não havia arame liso. Olhavam para os garotos e perguntavam:  o que estão fazendo aí parados? – olhando vocês! – Por que? Porque ficamos sabendo que vocês todos pularam no chão ontem e aí viemos ver se vão pular de novo, vocês vão? Olha aqui moleques, se fizerem isso de novo pegamos vocês e cortamos ...  – Que isso moço, não fizemos nada!  - Sumam! Só se ouvia o tropel e risos.   Dias depois, noutro poste, lá estavam os pobres operários estendidos no chão e no outro dia, novamente empurrando as bicicletas. Que ódio que ficavam!!!   

Só para constar, quero lembrar que em todos esses acontecimentos em Patos de Minas, sempre juntos estavam o trio: José Bento e João Bento, meus sobrinhos e eu, Pedro Alves, que mais tarde recebi o apelido de Pedro Bento.  E dos coleguinhas que tínhamos nesta última morada, somente de um me lembro o apelido: Tatu. Nunca mais o vi, o que é uma pena.