quarta-feira, 5 de junho de 2013

Pedro e sua história - Quarto capítulo



Quarto Capitulo

Cuidado com a porca

Das muitas fazendas que minha mãe ia trabalhar, numa os donos eram os saudosos Santos e Davina, que mais me tratava como um filho do que o menino chorão da empregada. Era um casal muito farturento e no chiqueiro os capados (porcos bem gordos) chegavam a estourar a pele de tão gordos. Quando isso ocorria, normalmente o capado ficava preso sob a estiva do paiol (paiol é um depósito de milho ainda com a palha e estiva era a parte livre sob esta construção, na época de madeira). Certo dia o sr. Santos avisou: amanhã bem cedo vamos matar aquela porca gorda que ficou presa sob a estiva antes que as galinhas fure ela toda. Mal pude dormir. Acordei cedo e lá estava tentando ajudar: a porca foi libertada e ao sair ficou valente e todos cercando daqui e dali, ela avançou na minha direção. Claro, ela era esperta, pois eu era o menor! Foi então que defensivamente estendi os braços em sua direção e ela, emitindo fortes roncos engoliu minha mão. Puxei de volta como um relâmpago e incrível os dentes da fera já não estavam tão bons e deixou escapar a mão. É claro que nem tudo ela deixou escapar, a maior parte do couro da mão ficou entre os dentes. Mas não tinha importância, estávamos pegando a porca e a missão teria que ser cumprida e finalmente alguém a derrubou e sangrou. Missão cumprida, agora é sapecar e abrir a bitela. Mas antes... ai, ai, ai, ai,ai. Olha minha mão ficou vermelha e doía muito. E tome gritar. Levaram-me pra dentro de casa, passaram tanta coisa na mão que não faço nem ideia. Só sei de uma coisa: não resolvia nada, só fazia doer mais. Mas nada é eterno e no dia seguinte eu já estava brincando e gritando quando esbarrava a mão nalguma coisa. É meu. Por pouco não fico sem a mão ou no mínimo parte dos dedos. Parte da sorte talvez seja que eram tão finos que passaram entre os dentes da porca meio desdentada e a outra parte vamos deixar por conta dos anjos, né?

Bica dágua

Foi ainda na casa do sr. Santo e d. Davina, onde minha mãe trabalhava longos períodos. Como já disse era um povo trabalhador (pais e filhos) e por isso farturentos.  De frente a  sede daquelas terras, havia um morro por cima do qual se estendia a rodovia que ligava a cidade de Coromandel a Vazante. Do meio do morro, surgia um jato de água límpida que descia morro abaixo. Nos tempos de chuvas, o rio ficava com a água turva e as roupas da casa, eram lavadas no pé do morro. Era uma grande aventura, acompanhar minha mãe até lá e tomar banho de cachoeira.

Cá embaixo, a pequena casa sede, mas um enorme chiqueiro, com um paiol de milho e muitos porcos. Sob as estivas do Paiol, aquelas porcas mais gordas, já nem se levantavam mais.  Suas costas rachavam e a gordura branca aparecia. As galinhas bicavam nas rachaduras. Era hora de fritar toucinho e enlatar com as carnes. E foi assim que minha mão foi parar na boca da porca conforme já contei.

Coice de Bezerro

Noutra Fazenda, do Cantionil, dois fatos engraçados, se é que tem graça.  O primeiro, é que no final da tarde, após apartar os bezerros, a gente – eu, finado José Valdir e José Antônio (hoje advogado dr. José Antônio) (O Nilo me parece que era menor ainda e por nem participava dessas loucas aventuras) partíamos para a brincadeira do dia: laçar bezerros e monta-los.  Tombos, naturalmente nunca faltaram e alguns, muito desajeitados.  Mas um dia, fui mais experto: pouco antes de cair, pulei para trás e daí, só vi crescer um pé no rumo da barriga. Menino, acho que nem cheguei a botar os pés no chão quando o bezerro no pulo, já soltou os pés na boca do estômago! Viajei feio e quando acordei, vendo todos em dobro, não podia nem encostar a mão na barriga: ela estava partida, lascada, dolorida, ai meu Deus, que dooor! Você está pensando que mudei de vida não é? Claro que mudei: naquele dia nunca mais brinquei com bezerros! Só no dia seguinte!  E depois desse vieram muitos outros!

Cuidado com o fogo

Era muito comum, pouco antes dos períodos de chuvas, queimar o pasto para novo brotamento. No alto de um morrinho, o capim provisório esta muito alto, bem seco e fomos escalados (eu e o José Valdir) para meter fogo no tal. Bem cada um com um bambu seco e incendiado, saia espalhando o fogo. O serviço foi muito bem feito. Aliás qual o menino que não sabe fazer bem uma arte?  Só teve um problema: a gente se esqueceu que tinha de sair e fechamos o circulo de incêndio! Claro que saímos pois aqui estou para contar. Mas saí bem chamuscado, muito chamuscado, quase morremos. Mas a lei do silêncio prevalecia. Afinal, não valia a pena correr o risco de uma surra ainda por cima. Mas ficou uma frase engraçada do Zé quando vimos tudo incendiado ao redor: “primo, a gente se lascou...” ato seguinte saímos como o vento em direção aquele ainda mais baixo.

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