sexta-feira, 7 de junho de 2013

Pedro e sua história - 5º Caítulo



 Quinto Capítulo

Olha a onça

O duro mesmo era quando voltávamos a noite, precisávamos atravessar matas fechadas (uma delas se chamava Mata Preta) e a mãe avisava: preste atenção, estamos sendo seguidos, fique na frente! Pisadas suaves e pequenos estalos na mata, denunciavam que podia ser uma onça. Mas eu era bom. Ruim era o coelho, a paca ou outro animal pequeno que sempre atravessou na frente da onça, na ora dela fazer o banquete comigo!  Minha mãe, coitada, já estava acostumada. Quando mais jovem e moravam em rancho aberto, vivia fervendo água pra jogar nas onças, quando os homens estavam fora. Como haviam onças no município viu?

Noutra direção, lá para as bandas das terras dos Miguels, havia morros e montanhas e para atravessa-las de um lado para outro, havia uma passagens através de uma gruta para mim, bonita e assustadora ao mesmo tempo: bonita porque corria um pequeno riachinho de águas límpidas e fria; assustadora porque ali muitos bichos bebiam água e  um tanto escura  e silenciosa, era pouso de morcegos. Andar sem fazer barulho era bom para evitar uma   revoada de  morcegos. Ali dentro eu tinha uma sensação de abandono. Hoje, talvez minha visão fosse outra, até porque por ali tudo mudou. O interessante é que numa ocasião minha mãe trabalhava na direção de Vazante nas redondezas da Mata Preta e noutras em direção completamente oposta, em direção a Coromandel, no retiro onde trabalhavam os Bertos, Fazenda do Tião e Geraldo Miguel e mais longe ainda na Matinha – Fazenda da Maria Rocha e João Calixto e depois da Matinha perto do Zé Amaro, Vicente Caixeta, etc.  Vai haver detalhes na hora certa.

Que bom estar em casa

Na colheita de algodão, Ana trabalhava em casa: chegavam sacas e sacas de algodão para serem transformadas em linhas que depois eram tecidas e transformadas em colchas e roupas.  Pedro desencaroçava e catava (colhia os “siscos”) o algodão e depois enrolava a linha em novelos para desocupar a canela da roda; Minha mãe cardava e fiava o dia todo, com um enorme pito (cigarro) de palha na boca. Eram preparados a noite para não interromper o trabalho e as palhas eram escolhidas do milho comum – bem grandes.  O desencaroçador, para quem não conhece, tem duas moendas de madeira como um engenho, por onde o algodão passa e o caroço fica. Com uma mão tocava as moendas e com outra, alimentava com o algodão. Essas moendas, também eram taradas por um dedo da mão! Este, muito fino, vez ou outra era engolido pelas moendas e saia pulsando – como nos desenhos animados: puf,puf,puf.... Que dor!!!

Mas eu, de vez em quando, tanto recebia uma ajuda de minha mãe, para adiantar o material para ela, quanto tinha bons momentos de folga. Folga para ir ao cerrado e colher um bom feixe de ramos para varrer a casa, tempo para correr até a grota ( riachinho temporário – na seca secava), buscar água para beber, lavar as vasilhas para o almoço,  etc. Quem fazia o almoço? Não tinha muito que fazer em matéria de variedades, mas grande parte do tempo, como já adiantei antes, quem fazia era eu mesmo que estava sempre perguntando: - mãe,  essa gordura dá? (mostrava na colher);   – Dá filho. - Mãe, este tanto de sal ta bom? -Ta filho. Mãe ... mãe...  A mãe ia respondendo, mas na verdade nem tava olhando porque era sempre a mesma ladainha.  Mas foi assim, com esse início, que adquiri ao longo dos anos, o interesse pela cozinha.

Tecnologia e fé

Nos períodos em que o trabalho era em casa, havia outras coisas interessantes: quando a grota secava, mãe e filho buscavam água no rio mais distante. Para que a água não derramasse da lata de 18 litros que minha mãe carregava na cabeça e do balde (pequeno) que eu carregava, ramos de quaresmas eram colocados dentro das vasilhas, evitando que a água se movimentasse tanto com o andar.  Tecnologia avançada. Mas dava canseira meu! Hoje sempre que vejo a quaresmeira florida me dá um aperto no coração, acho que de saudade delas, mas não do balde!

A seca se tornava cada vez mais séria e a tecnologia era substituída pela fé: no domingo, o jeito era rezar muito pra ver se chovia; os moradores da região então, se reuniam portando litros, garrafas, cabaças, enfim com alguma vasilha com água, para  molharem o pé de um cruzeiro (cruz) fincado no alto de um pequeno morro de pedras. Ali rezavam terços e faziam novenas expostos ao sol, num ato de fé e adoração, implorando ao Pai para que mandasse chuvas. A reza: Bendito, louvado seja ..... e o sol ... esturricava a cabeça.

Os primos – alegria da visita  

Mas o bom mesmo acontecia nos domingos que eu  recebia a visita de seus primos João Alves Josué Beca e as vezes Belchior Beca que era menor, Valdemar e outros. Conforme já adiantei em capitulo anterior, durante a semana, eu saía com um machado ou foice e cortava muitas galhas de pés de Murici (fruta silvestre) que havia no cerrado ao redor de casa e outros paus destinados a lenha. Eu nunca cortava a arvore toda. Acredite, infelizmente não era por motivos ecológicos, mas simplesmente para que a lenha próxima não se acabasse.

 Ao receber a visita dos primos para brincar, corria logo atrás de uma corda, fazia uma canga com um pedaço de pau e de repente lá estavam eles fazendo o papel de bois, se divertindo em arrastar as galhas cortadas. Afinal eram fortes como touros e eu, fraquinho, era o carreiro que comandava os bois. Era divertido ver tanta força quando aquelas galhas se embaraçavam nas moitas pelo cerrado afora e os primos, verdadeiros atores, imitavam direitinho a uma junta de bois. 

Chegando ao rancho (casa de palha de coqueiro) aquela galha de árvore era deixada ao lado de um pequeno ranchinho, aonde eu, sozinho  iria me divertir cortando durante a semana,  empilhando a lenha. 

Erro de cálculos

Certa vez fui cortar uma galha, mas cortá-la ficando de pé no tronco estava desconfortável e sem equilíbrio. Então tive a brilhante idéia de passar para o lado da ponta da galha onde diversas galhas menores me equilibravam e comecei a cortar o seu pé.  A intenção era adiantar o corte e antes dela se partir eu passaria para o tronco onde continuaria até terminar de cortar. Pois é, você já sabe o que aconteceu não é? Foi aquela machadada a mais! Não calculei bem o meu peso e do machado. Felizmente eu e machado tomamos direções diferentes e a árvore não era tão alta. Ainda assim foi uma semana de dor e silencio sobre o que aconteceu.  O que muitos jovens de hoje não sabem é que ao contrário deles, a gente não podia vir correndo e chorando para contar a arte.  A gente apanhava para deixar de ser burro!

Inventores

Mas eu e meus primos não brincávamos somente arrastando lenha. Na verdade provando que nem sempre ocorria mancadas, mostrávamos nosso lado criativo construindo nossos próprios brinquedos. Conforme já contei a gente inventava os carrinhos de carretel, de lobeiras simples, duplos e até carrinhos de sabugos. Pensando o que?   Estradas e estradas eram construídas sobre um terreno limpo, por onde a gente trafegava com nossas invenções.

 Presente de Rei – meu primeiro contato com a cidade

Repeti sobre nossas invenções para dar entrada ao fato de que um dia acabei recebendo um brinquedo tão diferente, inusitado, colorido que eu nunca havia visto. Era uma espécie de piorrinha colorida, de plástico, uma coisa linda!!! Fiquei tão impressionado que não a largava mais e por um bom tempo esqueci-me de meus inventos tão tradicionais. Foi sem dúvida o meu primeiro contato com alguma coisa da cidade. O presente veio de meu cunhado e padrinho Antônio Bento, marido da minha irmã mais velha, se lembram? Irão perceber ao longo de minha história que minha vida se cruzou definitivamente com ele um dia e que ele foi uma das pessoas mais sensível e inteligente que já conheci.   Muito mais tarde, quando fazia o ginásio, e atendendo determinação de minha competentíssima professora Dolores Rosa Solis, fiz uma redação sobre este presente dando a redação o nome de UM PRESENTE DE REI.  Não esperava, mas tive a nota E de Excelente e no momento oportuno talvez a transcreva nesta história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário