Sétimo Capítulo
Dos filhos da tia Jovita
O Bruno (Nezico), rapaz forte,
experto casou-se com moça rica, saiu de casa e hoje de volta a casa dos
falecidos pais, só sei que anda meio doente e como sempre visito todo mundo
para saber como está e dar meu apoio, espero em breve visita-lo.
O Carioca (Daril) nunca deixou
aquelas terras. Ali construiu sua casa casou com uma pessoa muito gente boa
(Salvina) e teve um punhado de filhos. Não vou arriscar a citar o nome de
todos, mas sei que seis deles são jogadores de futebol, aliás, muito bons. Não
poderia ser diferente, pois o pai Carioca foi um dos maiores centro avante do
município. Hoje deve estar aposentado e
tranquilo como sempre foi vai levando a vida.
Uma das filhas é craque na contabilidade em Vazante – a dona Sibele.
Aliás a única que já esteve em Brasília na minha humilde chácara junto com o
maridão. Foram levados pelo Leonel, mas foram.
O Tião Procópio, casou-se com a
filha do Hilário, lembram? Virou sócio catireiro com ele e depois também com
seu cunhado o Ronan e depois que tudo isso passou, hoje mora em Vazante, está
separado e ganha a vida sendo corretor.
A Rosa, uma linda loira, casou-se
também com um cabra muito bom e do qual gosto muito, meu amigo magro como um
palito, o Lico Machado. Tocam a fazenda deles, fazem queijos de qualidade e
raramente quando vou a Vazante não vou visita-los. É só uma questão de
afinidade e porque são pacientes com meus longos papos. Acho que de tanto eu
insistir acabaram gostando de mim também. Mas a frente certamente contarei
causos envolvendo eles e outros que lá frequentaram ou ainda frequentam.
A Ilda a mais nova e também uma
linda garotinha que todos ficavam de olho, também se casou com um cabra bão e
pouco os vejo atualmente.
O Alderico, dono da venda, também
se casou e deixou a venda indo para a cidade onde aposentou-se trabalhando na
prefeitura. Não relatei os irmãos em ordem de idade e deixei um dos mais velhos
por último para contar a história seguinte.
Queimando a boca – que inocência (ou burrice? – veja lá o
que pensa, eu era criança)!
Se lembram da história das
bolachas e balas que eu as vezes descolava. Pois é era guiando os tais bois. Depois
de horas guiando bois que puxavam um arado e depois que puxavam um engenho, tudo
na mesma fazenda da tia Jovita, lá vou eu me deliciar com uma grande puxa de
melado. Soprei muito e impaciente para dar uma bela mordida, acreditei que
estava frio o bastante e então creu! Meu
Deus que vulcão estava por dentro e tudo grudou na boca. Somente uma solução: por
sorte estava a poucos metros da aguada (local do rio onde se apanhava água) e
eu tibumm... pulei dentro dágua com a boca aberta. A boca que se parecia com um
vulcão esfriou e dor passou, mas a puxa endureceu e fiquei horas chupando o que
ficou grudado nos dentes e curtindo a queimadura do céu da boca. Os dentes... nunca mais prestaram!
Vai afogando trem
Talvez em torno de 50 metros
ficava a grotinha de nosso ranchinho. Grotinha para nós é uma espécie de mini
riacho que corre água no período de chuvas e seca quando elas se vão. Apesar da
pequena mina lá no início, no pé da montanha, não conseguia manter a água mais
distante, onde morávamos. Mas quando tinha água era uma maravilha, pois dela
carregava água para beber, lavar vasilhas, roupas e enfim para tudo. Embora
parecesse inocente, aquela grotinha se tornava perigosa nos tempos chuvosos,
pois colhia todas as águas que vinham das serras e das enxurradas e seus
profundos barrancos comportavam um enorme volume de água. A presença de muitas
árvores nas suas margens resultavam em muitas raízes nos barrancos que até
brotavam cobrindo as margens internas de verde. Aliás naquelas árvores
imitávamos macacos pulando de galho em galho sobre a grota, sempre arriscando
quebrar um pescoço, um braço, uma perna... mas o que é isso para aquelas
crianças destemidas e encapetadas?
Pois desta vez eu não estava
aprontando nada. Simples havia chovido um pouco e os degraus que permitiam
acessar a água estavam molhados e escorregadios. O fator surpresa foi que
choveu muito na cabeceira e quando ouvi aquele barulho característico de muita
água chegando, avistei uma enorme cabeça dágua (é a chegada da enchente). Subi
igual uma bala arrastando meu balde até o meio da escadaria quando a bichona
passou levando paus e folhas a frente. A grota se encheu rapidamente até acima
da metade do barranco e então cansado com a corrida, fui então descansar o
balde um pouco e ele, escorando o fundo falsamente numa pedra virou. Fui tentar
salvar a água e o balde e consegui, mas o pé escorregou e saí rolando até cair
na grota. Menino, eu parecia uma pluma levado pela aquela força da água. Foi
quando, numa fração de segundos pensei: agora fui! Vou morrer mesmo, adeus
mamãe. Aí veio de novo aquele anjo da
guarda e me atirou no barranco e foi me esfolando e esfregando na margem para
eu sentir e ver todas aquelas raízes! Eu agarrava uma arrebentava, agarrava
outra e outra, até que segurei numa parruda mesmo e via minha bundinha planar
sobre a água. Dalí peguei outra mais acima e outra e finalmente nas árvores já
beirando a pequena ponte, por onde voltei pra casa. Esfolado e sem fôlego mas
voltei. As pernas? Tremiam, tremiam e os dentes batiam uns nos outros, eu não
sabia se pelo susto ou de frio. Se eu
contei prá minha mãe? Você é doido? E a surra que eu levaria por fazer aquela
“arte”? Torci um pouco a roupa, entrei pra dentro de casa e aproveitando que
ela estava firme na roda de desfiar algodão passei direto para o quarto e
tratei de trocar de roupa e disfarçar os esfolões.
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