quarta-feira, 19 de junho de 2013

Pedro e sua história = 7º capítulo



Sétimo Capítulo

Dos filhos da tia Jovita

O Bruno (Nezico), rapaz forte, experto casou-se com moça rica, saiu de casa e hoje de volta a casa dos falecidos pais, só sei que anda meio doente e como sempre visito todo mundo para saber como está e dar meu apoio, espero em breve visita-lo.
O Carioca (Daril) nunca deixou aquelas terras. Ali construiu sua casa casou com uma pessoa muito gente boa (Salvina) e teve um punhado de filhos. Não vou arriscar a citar o nome de todos, mas sei que seis deles são jogadores de futebol, aliás, muito bons. Não poderia ser diferente, pois o pai Carioca foi um dos maiores centro avante do município.  Hoje deve estar aposentado e tranquilo como sempre foi vai levando a vida.  Uma das filhas é craque na contabilidade em Vazante – a dona Sibele. Aliás a única que já esteve em Brasília na minha humilde chácara junto com o maridão. Foram levados pelo Leonel, mas foram.

O Tião Procópio, casou-se com a filha do Hilário, lembram? Virou sócio catireiro com ele e depois também com seu cunhado o Ronan e depois que tudo isso passou, hoje mora em Vazante, está separado e ganha a vida sendo corretor.

A Rosa, uma linda loira, casou-se também com um cabra muito bom e do qual gosto muito, meu amigo magro como um palito, o Lico Machado. Tocam a fazenda deles, fazem queijos de qualidade e raramente quando vou a Vazante não vou visita-los. É só uma questão de afinidade e porque são pacientes com meus longos papos. Acho que de tanto eu insistir acabaram gostando de mim também. Mas a frente certamente contarei causos envolvendo eles e outros que lá frequentaram ou ainda frequentam.

A Ilda a mais nova e também uma linda garotinha que todos ficavam de olho, também se casou com um cabra bão e pouco os vejo atualmente.

O Alderico, dono da venda, também se casou e deixou a venda indo para a cidade onde aposentou-se trabalhando na prefeitura. Não relatei os irmãos em ordem de idade e deixei um dos mais velhos por último para contar a história seguinte.

Queimando a boca – que inocência (ou burrice? – veja lá o que pensa, eu era criança)!

Se lembram da história das bolachas e balas que eu as vezes descolava. Pois é era guiando os tais bois. Depois de horas guiando bois que puxavam um arado e depois que puxavam um engenho, tudo na mesma fazenda da tia Jovita, lá vou eu me deliciar com uma grande puxa de melado. Soprei muito e impaciente para dar uma bela mordida, acreditei que estava frio o bastante e então creu!  Meu Deus que vulcão estava por dentro e tudo grudou na boca. Somente uma solução: por sorte estava a poucos metros da aguada (local do rio onde se apanhava água) e eu tibumm... pulei dentro dágua com a boca aberta. A boca que se parecia com um vulcão esfriou e dor passou, mas a puxa endureceu e fiquei horas chupando o que ficou grudado nos dentes e curtindo a queimadura do céu da boca.  Os dentes... nunca mais prestaram!

Vai afogando trem

Talvez em torno de 50 metros ficava a grotinha de nosso ranchinho. Grotinha para nós é uma espécie de mini riacho que corre água no período de chuvas e seca quando elas se vão. Apesar da pequena mina lá no início, no pé da montanha, não conseguia manter a água mais distante, onde morávamos. Mas quando tinha água era uma maravilha, pois dela carregava água para beber, lavar vasilhas, roupas e enfim para tudo. Embora parecesse inocente, aquela grotinha se tornava perigosa nos tempos chuvosos, pois colhia todas as águas que vinham das serras e das enxurradas e seus profundos barrancos comportavam um enorme volume de água. A presença de muitas árvores nas suas margens resultavam em muitas raízes nos barrancos que até brotavam cobrindo as margens internas de verde. Aliás naquelas árvores imitávamos macacos pulando de galho em galho sobre a grota, sempre arriscando quebrar um pescoço, um braço, uma perna... mas o que é isso para aquelas crianças destemidas e encapetadas?

Pois desta vez eu não estava aprontando nada. Simples havia chovido um pouco e os degraus que permitiam acessar a água estavam molhados e escorregadios. O fator surpresa foi que choveu muito na cabeceira e quando ouvi aquele barulho característico de muita água chegando, avistei uma enorme cabeça dágua (é a chegada da enchente). Subi igual uma bala arrastando meu balde até o meio da escadaria quando a bichona passou levando paus e folhas a frente. A grota se encheu rapidamente até acima da metade do barranco e então cansado com a corrida, fui então descansar o balde um pouco e ele, escorando o fundo falsamente numa pedra virou. Fui tentar salvar a água e o balde e consegui, mas o pé escorregou e saí rolando até cair na grota. Menino, eu parecia uma pluma levado pela aquela força da água. Foi quando, numa fração de segundos pensei: agora fui! Vou morrer mesmo, adeus mamãe.  Aí veio de novo aquele anjo da guarda e me atirou no barranco e foi me esfolando e esfregando na margem para eu sentir e ver todas aquelas raízes! Eu agarrava uma arrebentava, agarrava outra e outra, até que segurei numa parruda mesmo e via minha bundinha planar sobre a água. Dalí peguei outra mais acima e outra e finalmente nas árvores já beirando a pequena ponte, por onde voltei pra casa. Esfolado e sem fôlego mas voltei. As pernas? Tremiam, tremiam e os dentes batiam uns nos outros, eu não sabia se pelo susto ou de frio.   Se eu contei prá minha mãe? Você é doido? E a surra que eu levaria por fazer aquela “arte”? Torci um pouco a roupa, entrei pra dentro de casa e aproveitando que ela estava firme na roda de desfiar algodão passei direto para o quarto e tratei de trocar de roupa e disfarçar os esfolões.

Nenhum comentário:

Postar um comentário