segunda-feira, 27 de maio de 2013

PEDRO E SUA HISTÓRIA

A maior parte de visitas no meu face são de parentes e amigos, dos quais, muitos me conhecem há longos anos e creio que por isso posso confidenciar: dentre as diversas coisas que estou sempre escrevendo e nem tudo coloco no face ou no Blog advocaciapedroalvesblogspot.com ou advocacia e gerais, venho tentando escrever minha história. Talvez não desperte qualquer interesse, mas algumas passagens, do modo que descrevo podem parecer até engraçadas. É claro, que se eu contar do modo dramático que na verdade as coisas sempre se passaram para o carroceiro, o cavalo é que findaria chorando. Pois bem, ocorre que há muito tempo venho tentando escrever mas o tempo e o tal de depois, não me permite passar das primeiras páginas. Tive uma idéia: vou começar a registrar por aqui no blog as partes que for escrevendo e assim, talvez, com este compromisso eu vá bem adiante. Se acharem alguma coisa interessante, comentem e aqueles que fizerem parte da minha história, poderão me ajudar lembrando de fatos  que eu tenha esquecido.  O título será: Pedro e sua história.



PEDRO E SUA HISTÓRIA




Idos de 1949.

Ana tinha um bom marido, José e seis filhos: Maria, Antônio, Lazara, Tereza, Helena e Divina.

Pobres, mas trabalhadores. Moravam na roça, não havia mercado, loja, farmácia, médico, veículo, nada!

José faleceu. A vida de Ana, embora jovem (33 anos), ficou mais árduo.  Maria se casou, helena foi com ela. Lazara também se casou. Antônio virou vaqueiro e sumiu. Tereza também sumiu e Divina foi morar com os padrinhos.

1951 . Ainda muito jovem, mesmo sem planejar estava na hora e lugar certos quando sem nenhum namoro, falou mais alto o instinto e pá ficou uma única vez com um senhor mais jovem e puft ..., engravidou. Nunca mais estiveram juntos e tampouco namoraram. Estranho!!! 

1952 – 26 de fevereiro. Pedro foi o nome que deu a seu filho recém-nascido, o qual batizou, como Pedro Eustáquio, mas só registrou aos nove (9) anos, com o nome de Pedro Alves da Silva, como filho “natural” (sem nome do pai). Virou tabu e ninguém comentava e nem contava nada em especial para mim, filho bastardo.

1956 – Antes desta data minhas lembranças são rara, curtas e incertas.

Daqui em diante algumas passagens são lembradas, embora muitas sem certeza de tempo certo – apenas passagens.  Mas é o início de registro de memória da história de Pedro Alves da Silva, filho de Ana Alves Pereira, sem pai declarado, de mãe viúva, um rancho de palha sem reboco, piso de terra batido, fornalha de barro, camas de pau com colchão de palha de milho, um desencaroçador de algodão, uma roda de fiar, um par de cardas, um pilão e o essencial da cozinha.

Dona Ana, coitada, tinha que trabalhar para sobreviver e sustentar o rebento. Era uma diarista, semanalista, mensalista, enquanto havia serviço numa fazenda.  Trabalhava na enxada, colhia arroz, feijão, café, algodão, abanava, lavava roupas, “arrumava” vaca, capados (porcos gordos – muito gordos), cozinhava, salgava, cozinhava, fritava e enlatava tudo para os fazendeiros.  Saia de casa em torno de  03,00 hrs, muito escuro, muito frio certos meses e muitas léguas para andar (uma légua tem 06 km), até o seu destino. Amanhecia o dia se apresentando para o trabalho, que pela distância ficaria alguns dias (uma semana, duas, dependia). Quando retornava geralmente estava anoitecendo e então muito medo principalmente das onças – havia muitas, mas detalho depois.


Ah! Eu? Eu estava lá firme e junto, ora correndo na frente, ora carregado nas costas, ora correndo atrás. Era muito divertido: minhas pernas doíam então minha mãe me carregava e logo a posição de pendurado nas costas cansava, descia para o chão e quando estava no chão, manhã ainda escura, era o rei das topadas (tropeções)  mas disso falo depois. 
Às vezes minha mãe não saia de casa para trabalhar. Fazia isso em casa. Era nas épocas de trabalhar com algodão, as vezes que ela mesma havia colhido para algum fazendeiro. Nesta época traziam sacos e sacos ou grandes jacás de algodão num carro de boi despejando no nosso velho rancho.  Ali o algodão era descaroçado, cardado, fiado e novelado em condições de levar para o teal.

Minha mãe era uma máquina de trabalhar e me parece que nesse tempo de boa saúde, pois ela nunca reclamava.

E eu, Fraco, doente e chorão

Eu era assim: magrinho. Não, raquítico mesmo! Na verdade do corpo destacava os joelhos e uma barriga cheia de vermes e lombrigas. Às vezes um doce de mastruz fazia expelir alguns vermes ou lombrigas, mas a toxidade hoje conhecida, por certo me deixava prostrado.  Às vezes comia até bem: alguns grãos de feijão pagão e quando tinha comia arroz. Acontece que houve anos que não se colheu arroz e o similar, que não me lembro de semente do quê, o estômago não aceitava. Aliás, o tal do estômago também não aceitava nem carne se não fosse quase queimada e frutas da época.  Logo, eu não comia melhor não era por falta do que comer, pois coitada de minha mãe se matava para isso. Acontece que os vermes não deixavam! O simples cheiro da carne me dava náuseas.  Mas sabia chorar. Chorava muito e por onde andava, acho que muita gente tinha vontade de pelo menos me amordaçar, já que a expressão matar parece muito forte. Mas havia aquelas almas bondosas e compreensivas que até meu choro toleravam com certo carinho e diziam: Sinhana (apelido de minha mãe) que tem esse menino? – sei não!  ninguém sabia! Veja o que este menino quer!  -Tenho tempo não, deixa ele chorar.

Menino bom

Apesar das crises de choro, tontura, dor na barriga e outras coisinhas mais, era só passar a crise, eu gostava de participar de tudo: da lida com os porcos, com o gado e enfim onde deixava eu colocava o fusinho. Talvez por isso muitos até gostassem de mim, pois era muito obediente e fazia tudo rápido.  E em casa era melhor ainda: logo cedo minha mãe dizia: filho vamos descaroçar o algodão. Eu sentava de um lado e ela de outro do descaroçador (duas moendas, eu girava uma e ela outra) por onde passava o algodão que ia sendo colocado por minha mãe e colhido por mim (uma mão girava a moenda e a outra colhia). Depois de certa quantidade ela ia cardar e eu continuava sozinho descaroçando. Minha rotina era assim: quando não estava ajudando minha mãe com o algodão, eu ia até o cerrado e colhia um bom feche de ramos e varia a casa; buscava água na grota perto, buscava lenha para completar o ranchinho, dava milho para as galinhas e na hora certa eu sempre ouvia: filho vá fazer almoço. – tá mãe e as mesmas perguntas eu fazia todo dia: esse tanto de arroz dá? – Dá; Esse tanto de gordura dá? – Dá. Esse tanto de sal dá? – Dá. Depois da primeira vez minha nem mesmo olhava a quantidade e sempre respondia: Dá! Meus braços não alcançavam o interior da panela para mexer e então, colocava um toco ao lado da cabeceira da fornalha de onde uma ponta de casqueiro (tábua) descia até o chão já ao lado do rabo da mesma (uma rampa) por onde meus pés subiam e desciam, o casqueiro,  ao lado e altura desejada da fornalha.  A variedade do almoço você pode imaginar: arroz, feijão, uma abóbora ou mandioca e ovos e às vezes carne de alguma coisa (vaca, carneiro ou cabrito, tatu e outras caças muito raramente quando ganhávamos ou ela trocava por serviço, galinha que criava e porco a gente quase sempre tinha um engordando, alguma coisa se guardava na manteiga ou secava sobre o fogão visto que geladeira nem se conhecia. Certa vez tentamos cozinhar uma seriema e levou o dia todo!  Como já disse, minha mãe não deixava faltar as coisas. O problema é que meu estômago não aceitava nada de carnes. Só arroz e feijão de preferência pagão.


segue no próximo capítulo...eheheh

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