PEDRO E SUA HISTÓRIA
2º CAPÍTULO
Mãe quero arroz
Cê acredita que pouco tempo atrás
ainda encontrei um parente que me dizia: “mãe, quero arroz”, repetindo pedido
meu na infância. Acontece que houve um ou dois anos que não se colheu arroz
daquele convencional e não havia para comprar. Não me lembro de que crise foi
essa. João Alves, meu primo, me esclareceu que surgiu um arroz meio peludo,
mais duro até para descascar e tinha um sabor um pouco mais forte. Êpa, falou
em sabor mais forte meu estômago ou a lombrigas, não sei, recusavam. Então eu chorava
e dizia: mãe quero arroz! Já pensou que desespero para a pobre de minha mãe,
visto que minha dieta era o tal arroz? Não é por nada, mas a verdade é que
mesmo sem as tais lombrigas, continuo amando o arroz.
Brinquedos modernos
Você já brincou com carrinhos de
carretel? E de lobeiras? E de Sabugos?
Pois é, meus primos principalmente João e Josué e eu, éramos bastante criativos.
Antigamente a linhas de costura vinha em pequenos carretéis de madeira. Num
pedaço de madeira abríamos duas ou mais fendas que se encaixavam nos carreteis
se transformavam em rodas. O combustível
era o braço que ia empurrando o carrinho por estradinhas tortuosas, cheias de
pontes e tudo quanto a imaginação permitia em pequeno espaço de chão. Já o carrinho de lobeiras era assim: você
colhia lobeiras grandes, aparava uma de lado e outro atravessando-a com um
pedaço de madeira trabalhado de forma que este seria o eixo. Neste eixo você
encaixava outras duas lobeiras em suas pontas que serviriam de rodas. Naquela
lobeira atravessada de um lado para o outro, a gente encaixava outro pedaço de
pau, desta vez bem comprido, de modo que de pé pudesse empurrar o eixo com as
duas rodas. Quando a gente queria quatro rodas, bastava montar outro eixo igual
ao primeiro, inclusive com a lobeira do meio. Um terceiro eixo, um pouco maior
e sem rodas, mas com a lobeira atravessada era ligado aos dois primeiros eixos,
através das lobeiras atravessadas com rodas nas pontas. Desta vez, o pedaço de
madeira comprido era colocado no centro do terceiro eixo para empurrar todas as
rodas. Enfeitava-se cortes nas lobeiras rodas para deixarem rastros e o espaço
da brincadeira era bem maior. Com que se prendem as rodas? Com nada, ao
murcharem elas mesmas se prendem nos eixos e com jeito não se soltam. O brinquedo de sabugos era o mais simples: a
gente simplesmente debulhava o milho e os sabugos a gente cangava um no outro
com pequenos pedaços de madeiras simulando todas as peças utilizadas em bois de
verdade e no final puxavam o carro (na verdade a gente é que empurrava com as
mãos e ia gritando os bois pelo chão a fora
Particularmente eu inventei um terceiro brinquedo do qual eu tinha
especial vantagem apesar de todo acharem divertido. Acontece que durante a semana eu cortava
sozinho muitas galhas principalmente de uma árvore fruta chamada de Muricy e
deixava secando. Nunca cortava a árvore toda, apenas as primeiras galhas: primeiro
porque eu gostava da fruta e segundo porque iriam ser encontradas cada vez mais
distantes e então o negócio hoje, seria como uma poda. Além destas árvores,
outras galhas ou troncos secos encontrados no cerrado eu ia juntando. No
domingo quando meus fortes primos chegavam, eu já tinha um pedaço de madeira e
uma corda para que arrastassem a lenha para minha porta. Como eu era o mais
fraco, ia tocando os bois. Era cada bufado que meus bois davam quando a galha
se prendia nalguma moita! Mas o bom mesmo é que para todos, aquilo era um
desafio e modo gastar energia e por havia prazer na execução. Também
brincávamos muito de pular de galho em galho nas matas mais fechadas ou pés de
manga e o resultado as vezes não era dos melhores.
Tia costureira de pé
Como já disse brincar em cima de
árvores nem sempre é prudente. Na casa de meu primo João havia um enorme e
frondoso pé de manga no pé de uma serra. Do lado da serra as galhas quase
tocavam o solo mas do outro lado a altura ficava enorme. Certa vez lá estávamos a brincar de pegar.
Fui correndo por uma galha cheia de brotos folhados que tapavam a visão e logos
que os atravessei a surpresa: o resto do galho estava seco e o chão foi minha
parada. O chão era cheio de pedras e cascalho. Caí sentado sobre o pé e não vi
mais nada. Quando acordei, minha tia, que era benzedeira alí estava com uma
agulha, um novelo de linhas e simulava costurar meu pé enquanto rezava e outra
aplicava emplastos para desinflamar e parar a dor. Menino de Deus, aquilo doía
viu? E na hora de ir embora? Eu não conseguia caminhar e a distância era muito
grande para ser carregado. Me colocaram então sobre um cavalo. Meu Deus, a cada
passo que ele dava, parece que meu pé queria sair da perna e foi aos gritos que
finalmente cheguei em casa.MÉDICO? que bicho era esse? Banhos disso, daquilo e
um dia sarou!
Parei no fundo de garrafa
Belo dia de chuvas, eu dentro de
casa e fiz alguma besteira que não consigo me lembrar! Talvez uma resposta
malcriada, não sei. O fato é que vi minha mãe crescendo em minha direção com o
chicote. Pensei logo, hoje não mãe, vou correr. A chuva estava forte e decidi
correr ao redor do ranho, mas não fui longe. Mal virei a direita da porta de
saída e meu pé atolou nalguma coisa tão cortante que só parou nos ossos. Era um fundo de
garrava quebrada cheio de pontas afiadas que havia atolado no meu pé. Nem
gritei! Minha mãe chegou e me arrastou
para dentro de casa enquanto eu nada entendia. Sentado no piso meio escorrido
via aquele tanto de sangue escorrendo chão a fora e ela, desesperada tentava
estanca-lo. Olha ela colocou tanto coisa – salgou, adoçou, colocou algodão
queimado e tudo que as crenças antigas sugeriam. Coitada se fosse hoje era só lavar e
pressionar com alguma coisa, né? Mas o sangue no final estancou, quando já desmaiava
por falta dele. MÉDICO? Que bicho era
esse? Este demorou a cicatrizar e até
hoje tenho suas marcas no pé direito. Foram outros dias e dias de dor, para
aprender a lição. Mas não pense que fiquei de folga o tempo todo. Mancando,
pulando e continuei fazendo aqueles afazeres de sempre. Afinal, pobre “enquanto
descansa carrega pedra.”
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