terça-feira, 28 de maio de 2013

PEDRO E SUA HISTÓRIA - 2º CAPÍTULO



PEDRO E SUA HISTÓRIA

2º CAPÍTULO

Mãe quero arroz

Cê acredita que pouco tempo atrás ainda encontrei um parente que me dizia: “mãe, quero arroz”, repetindo pedido meu na infância. Acontece que houve um ou dois anos que não se colheu arroz daquele convencional e não havia para comprar. Não me lembro de que crise foi essa. João Alves, meu primo, me esclareceu que surgiu um arroz meio peludo, mais duro até para descascar e tinha um sabor um pouco mais forte. Êpa, falou em sabor mais forte meu estômago ou a lombrigas, não sei, recusavam. Então eu chorava e dizia: mãe quero arroz! Já pensou que desespero para a pobre de minha mãe, visto que minha dieta era o tal arroz? Não é por nada, mas a verdade é que mesmo sem as tais lombrigas, continuo amando o arroz.

Brinquedos modernos

Você já brincou com carrinhos de carretel?  E de lobeiras? E de Sabugos? Pois é, meus primos principalmente João e Josué e eu, éramos bastante criativos. Antigamente a linhas de costura vinha em pequenos carretéis de madeira. Num pedaço de madeira abríamos duas ou mais fendas que se encaixavam nos carreteis se transformavam em rodas.  O combustível era o braço que ia empurrando o carrinho por estradinhas tortuosas, cheias de pontes e tudo quanto a imaginação permitia em pequeno espaço de chão.  Já o carrinho de lobeiras era assim: você colhia lobeiras grandes, aparava uma de lado e outro atravessando-a com um pedaço de madeira trabalhado de forma que este seria o eixo. Neste eixo você encaixava outras duas lobeiras em suas pontas que serviriam de rodas. Naquela lobeira atravessada de um lado para o outro, a gente encaixava outro pedaço de pau, desta vez bem comprido, de modo que de pé pudesse empurrar o eixo com as duas rodas. Quando a gente queria quatro rodas, bastava montar outro eixo igual ao primeiro, inclusive com a lobeira do meio. Um terceiro eixo, um pouco maior e sem rodas, mas com a lobeira atravessada era ligado aos dois primeiros eixos, através das lobeiras atravessadas com rodas nas pontas. Desta vez, o pedaço de madeira comprido era colocado no centro do terceiro eixo para empurrar todas as rodas. Enfeitava-se cortes nas lobeiras rodas para deixarem rastros e o espaço da brincadeira era bem maior. Com que se prendem as rodas? Com nada, ao murcharem elas mesmas se prendem nos eixos e com jeito não se soltam.  O brinquedo de sabugos era o mais simples: a gente simplesmente debulhava o milho e os sabugos a gente cangava um no outro com pequenos pedaços de madeiras simulando todas as peças utilizadas em bois de verdade e no final puxavam o carro (na verdade a gente é que empurrava com as mãos e ia gritando os bois pelo chão a fora   Particularmente eu inventei um terceiro brinquedo do qual eu tinha especial vantagem apesar de todo acharem divertido.  Acontece que durante a semana eu cortava sozinho muitas galhas principalmente de uma árvore fruta chamada de Muricy e deixava secando. Nunca cortava a árvore toda, apenas as primeiras galhas: primeiro porque eu gostava da fruta e segundo porque iriam ser encontradas cada vez mais distantes e então o negócio hoje, seria como uma poda. Além destas árvores, outras galhas ou troncos secos encontrados no cerrado eu ia juntando. No domingo quando meus fortes primos chegavam, eu já tinha um pedaço de madeira e uma corda para que arrastassem a lenha para minha porta. Como eu era o mais fraco, ia tocando os bois. Era cada bufado que meus bois davam quando a galha se prendia nalguma moita! Mas o bom mesmo é que para todos, aquilo era um desafio e modo gastar energia e por havia prazer na execução. Também brincávamos muito de pular de galho em galho nas matas mais fechadas ou pés de manga e o resultado as vezes não era dos melhores.

Tia costureira de pé

Como já disse brincar em cima de árvores nem sempre é prudente. Na casa de meu primo João havia um enorme e frondoso pé de manga no pé de uma serra. Do lado da serra as galhas quase tocavam o solo mas do outro lado a altura ficava enorme.  Certa vez lá estávamos a brincar de pegar. Fui correndo por uma galha cheia de brotos folhados que tapavam a visão e logos que os atravessei a surpresa: o resto do galho estava seco e o chão foi minha parada. O chão era cheio de pedras e cascalho. Caí sentado sobre o pé e não vi mais nada. Quando acordei, minha tia, que era benzedeira alí estava com uma agulha, um novelo de linhas e simulava costurar meu pé enquanto rezava e outra aplicava emplastos para desinflamar e parar a dor. Menino de Deus, aquilo doía viu? E na hora de ir embora? Eu não conseguia caminhar e a distância era muito grande para ser carregado. Me colocaram então sobre um cavalo. Meu Deus, a cada passo que ele dava, parece que meu pé queria sair da perna e foi aos gritos que finalmente cheguei em casa.MÉDICO? que bicho era esse? Banhos disso, daquilo e um dia sarou!

Parei no fundo de garrafa

Belo dia de chuvas, eu dentro de casa e fiz alguma besteira que não consigo me lembrar! Talvez uma resposta malcriada, não sei. O fato é que vi minha mãe crescendo em minha direção com o chicote. Pensei logo, hoje não mãe, vou correr. A chuva estava forte e decidi correr ao redor do ranho, mas não fui longe. Mal virei a direita da porta de saída e meu pé atolou nalguma coisa tão cortante  que só parou nos ossos. Era um fundo de garrava quebrada cheio de pontas afiadas que havia atolado no meu pé. Nem gritei!  Minha mãe chegou e me arrastou para dentro de casa enquanto eu nada entendia. Sentado no piso meio escorrido via aquele tanto de sangue escorrendo chão a fora e ela, desesperada tentava estanca-lo. Olha ela colocou tanto coisa – salgou, adoçou, colocou algodão queimado e tudo que as crenças antigas sugeriam.  Coitada se fosse hoje era só lavar e pressionar com alguma coisa, né? Mas o sangue no final estancou, quando já desmaiava por falta dele.  MÉDICO? Que bicho era esse?  Este demorou a cicatrizar e até hoje tenho suas marcas no pé direito. Foram outros dias e dias de dor, para aprender a lição. Mas não pense que fiquei de folga o tempo todo. Mancando, pulando e continuei fazendo aqueles afazeres de sempre. Afinal, pobre “enquanto descansa carrega pedra.”

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