quarta-feira, 17 de julho de 2013

Pedro e sua história Capítulo 11



Capítulo 11

Pedro em Patos de Minas – Pensão Minas

O padrinho Antônio Bento, comprava arroz em casca e feijão, milho, galinhas, qualquer coisa e levava no tal caminhão para vender na cidade vizinha (100 km). Era uma cidade muito maior e vendia tudo num belo mercado que existe lá até hoje. Se entusiasmou e resolveu mudar de ares.  Até hoje não sei se ele comprou  ou alugou uma pensão, ao lado da antiga rodoviária, a qual se chamava Pensão Minas.  As mulheres, minha mãe e minha irmã tocavam a pensão e ele, que não tinha carteira de motorista contratou um chofer (motorista) e buscava coisas e vendia. As vezes levava mercadorias para as cidades de  Curvelo, Gouvêia e outras e de lá trazia bebidas como a pinga Tatuzinho, muito famosa na época.  E nós, resolvemos montar um caixa de engraxar e partimos para a luta.

O soldado Rafael -- Teje Preso

Mas logo assim nos primeiros dias, eu estava mais perdido que cego em tiroteio.  Não tinha ainda amigos, não sabia o que fazer e então sai por ali, curioso com a praça bonita bem pertinho, onde me sentei num daqueles bancos de cimento cheio de propaganda e fiquei assistindo os moleques brincarem. Eram espertos, mas eu muito tímido, nem dava para conversar ainda. Moleques atentados subiam nas árvores apanhavam umas frutinhas verdes e duras e através de um canudinho guerreavam  soprando as frutas uns nos outros e  nas pessoas que passavam. De repente todos saíram disparados, dizendo o “cana” ta vindo, corram!  Besta de  tudo  não entendia  nada  do que acontecei e ali fiquei  olhando para um lado e outro feito besta, quando encostou um PM  usando aquele capacete que mal dá pra ver o rosto e disse: Você estava trepando nas árvores e quebrando as galhas, não é? – Não senhor, foram eles... cadê,  sumiram!!! – Você está preso, me acompanhe. – Mas senhor! – Calado, vou te levar para a cadeia.  Quase me mijei todo de medo! Eu não conhecia soldado, só ouvia dizer e agora, aquele homem todo fardado me dizendo que eu ia pra cadeia. Cadeia não era muito horrível, eu já tinha ouvido falar e escutava as música, por exemplo – meu ipê florido, junto a minha cela, ...  Meu Deus eu nunca vou sair de lá?  E fui andando na frente do  PM. Tremia feito vara verde e minhas pernas eu nem sentia mais. Estava no ar. E pensava:  agora, o que fazer? Vou preso e ainda vou apanhar. Meu Deus, não deixa não! Por favor...  – Ei garoto, estou falando com você, ta ouvindo não? – Sim senhor! Onde você mora? Bem... Eu e o soldado passavamos  bem em  frente a pensão. Mas se dissesse, ele contaria para minha mãe. E para o padrinho? Nossa, melhor não falar. – Garoto, responde logo! É que, que... eu não sei...  – Hi, já sei que vou ter que chamar o jipão mesmo. – Como? – Jipão é o carro da polícia aqui, você não sabe? – Não senhor, eu mudei pra cá ontem! Hamm... você está perdido? – Não senhor... - Pode falar garoto, você é muito caipira e sei que não foi você.   Que alívio! Respirei profundamente apontei o dedo e disse: eu moro ali.   E pensei : “mardito”, eu já tava me mijando!  - Pode ir pra casa, disse ele, mas cuidado pra não se misturar com estes pestinhas daqui viu? Vou estar sempre aqui vigiando, tá me ouvindo? – Sim senhor, tou indo, não vou me misturar... e fui...     Com o tempo soube que o meu carrasco se chamava Rafael e era bem conhecido por alí.  Mas você já viu o que faz um vira-lata na rua, quando alguém solta foguete?  Pois é, eu também saí feito uma bala e fui parar debaixo da cama e de casa não saiu o resto da semana.  Ah soldado!....

Os engraxates

Como disse logo atrás, nós crianças da casa, fomos ficando mais mansos com a polícia e tudo mais e começamos a engraxar na porta da pensão e quando o movimento ficava meio fraco a gente ia engraxar na pracinha.  Acontece que lá era proibido, mas muitos garotos iam prá lá e quando chegava a polícia todo mundo corria. Mas nem sempre. De vez em quando chegavam tão na surdina e quando a gente acordava estava de frente com os soldados que recolhiam todos os garotos e seus  engraxates, enfiavam tudo dentro do tal jipão e levava para a cadeia pública, só saindo de lá quando os pais comparecessem e após pagar aquele sapo. Aí, como sempre a gente levava uma surra em casa e tudo voltava ao normal.

Por falar em surra, certa vez de manhã acordou o José e o João e começaram a brigar de travesseiros. Eu reclamei dizendo que queria dormir e então me incluíram nas travesseiradas. De repente meu padrinho aparece na porta e a distribuição de correiadas foi geral. Até aquele dia ele nunca havia me encostado a mão porque era cagão de medo dele e sempre era o todo obediente. Mas naquele dia ele não desperdiçou a viagem. O João e o José tratou logo de chorarem escandalosamente e sair correndo para perto da mãe deles. Mas eu ..., eu não podia acreditar que ele estava me batendo e então entrei em pânico: em vez de chorar, arregalei os olhos, comecei a dar soluços, fiquei sem respirar e fui ficando roxo. Notando aquilo ele se preocupou e tentou conversar comigo, mas as coisas pioravam, ele me levou para o quarto nº 2 da pensão que estava vazio e comigo no colo mandou que alguém corresse até a farmácia de frente, contasse como eu estava e trouxesse o farmacêutico correndo. Eu não sei dizer direito se ele me aplicou uma injeção ou que ele fez comigo, mas fui acalmando e aos poucos comecei a chorar baixinho, já que me diziam que eu podia chorar (acho que eu tinha medo de chorar e ele me bater mais).  Olha, exceto o fato de que a fivela do cinto acertou meu rosto, o meu susto, o meu medo foi muito maior que a dor física e então eu criei coragem e disse: eu quero ir embora daqui, eu não fiz nada! Minha mãe é claro, virou um urutu e foi preciso muita conversa para as coisas se assentarem e meu padrinho é claro, prometeu e cumpriu: nunca mais me bateu.  Tentou muitos anos depois, mas eu corri e foi por ciúme dele embalado por umas pinguinhas. Mas isso conto bem na frente quando fiz dezesseis anos.

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