Capítulo 15
Lagoa dos japoneses – hoje atual rodoviária em PATOS DE MINAS
Meu padrinho mais parecia cigano
e mais uma vez se mudou, desta vez para um bairro chamado Lagoa dos Japoneses,
colado a vila dos operários. É claro que havia uma grande lagoa e nela muitos
paturis, patos, etc., além de peixinhos como carás, traíra, etc. Pois bem
moleques tentam tudo: nadar, pescar, pegar filhotes das aves e tudo que
direito. Na rua, em direção a lagoa,
havia um açougue e muitas vezes, numa cena muito desagradável ali mesmo se
matava o animal. Um tal de Milton,
matador e animais e certamente açougueiro, quando sangrava um boi por exemplo,
aparava as mãos cheias de sangue e bebia descrevendo se estava mais ou menos
salgado ou coisa assim. Aquilo era horrível e me chocava muito. Mas brincar de soltar ou rodopiar as piorras
de madeira (a gente chamava de piões – o paulistinha, o carioquinha!), era bom
demais, além de jogar bolinhas de gude e Bilboquê ( “é um
brinquedo antigo que consiste em uma esfera de madeira (ou de forma
semelhante), com um orifício central, e presa por uma corda numa espécie de
suporte”.).
Salve latinha: Também era fascinante
brincar de salve latinha. Quem fosse sorteado começava a pegar e colocar o
preso com a mão no poste e o próximo na mão do primeiro e o outro na mão do
seguinte, até pegar todos. Esse pegar não era físico: toda vez que o pegar
localizava um dos meninos corria até a base e batendo a latinha 3 vezes dizia:
fulano está preso; se o fulano corresse mais que ele até a latinha ele próprio
se salvava. Caso contrário, toda vez que prendia alguém ficava de olho na
latinha que obrigatoriamente ficava na base, geralmente debaixo de um poste de
luz, pois a brincadeira era noturna para que se pudesse esconder. O bairro era
muito sujo ainda de moitas, árvores nativas, entulhos e muita poeira. Às vezes
faltava somente um garoto para ser preso e ele, se arrastando pelo chão,
correndo ou voando (ôpa), saltava sobre a latinha e gritava: salve latinha! E
todos os presos se debandavam! Coitado de quem não fosse esperto, pois ficava
quase a noite toda correndo atrás do prejuízo. Sim, se todos fossem presos, o
primeiro seria a próxima vítima. E chegar em casa sempre era outro grande
problema devido a sujeira que a gente chegava.
Pobres trabalhadores – sobrou prá eles.
Uma das ruas que ali passavam,
viam do centro e outro bairros e atravessava direto para a Vila Operária. Detardezinha,
quase noite, se ouvia o ruído forte de dezenas de bicicletas e murmúrios de
muitos operários que voltavam do trabalho em grupos. Parecia o estouro de uma
boiada Pois a molecada teve logo a maquiavélica idéia de queimar peneus velhos
para deles extrairem o arame, que era desenrolado e esticado de algum poste na
margem da rua até algum toco do outro lado.
Já pode imaginar né? Distraídos, os pobres operários que vinham a
frente, de repente se embaraçavam e iam ao chão. Daí por diante era o efeito
dominó até cair todos. Menino veio, era
um poeirão que levantava! E nós, aqueles malditos pivetes através das frestas
de um muro qualquer mijavam de rir. Mas baixinho até que se levantassem e
fossem embora soltando palavrões de toda sorte. Sorrisse alto ou saísse lá fora pra ver! Mas isso não tinha graça nenhuma
pra eles, coitados! O que as vezes ficava engraçado era no dia seguinte: os
moleques malfeitores ficavam na rua para ver os operários passarem. Quando
chegavam naquele ponto, paravam desciam e empurravam as bicicletas observando
se não havia arame liso. Olhavam para os garotos e perguntavam: o que estão fazendo aí parados? – olhando
vocês! – Por que? Porque ficamos sabendo que vocês todos pularam no chão ontem
e aí viemos ver se vão pular de novo, vocês vão? Olha aqui moleques, se fizerem
isso de novo pegamos vocês e cortamos ...
– Que isso moço, não fizemos nada!
- Sumam! Só se ouvia o tropel e risos.
Dias depois, noutro poste, lá estavam os pobres operários estendidos no
chão e no outro dia, novamente empurrando as bicicletas. Que ódio que ficavam!!!
Só para constar, quero lembrar
que em todos esses acontecimentos em Patos de Minas, sempre juntos estavam o
trio: José Bento e João Bento, meus sobrinhos e eu, Pedro Alves, que mais tarde
recebi o apelido de Pedro Bento. E dos
coleguinhas que tínhamos nesta última morada, somente de um me lembro o
apelido: Tatu. Nunca mais o vi, o que é uma pena.