terça-feira, 23 de agosto de 2011

FANFARRA DE VAZANTE

VAZANTE, UM PASSO A FRENTE


                                   Vazante ainda era uma cidade pequena. Talvez pequena demais para ser emancipada, mas já era! Afinal, a política sempre fluiu nas veias do povo de Vazante e quando existe política, ainda que mal praticada, o Município, o Estado e o País acaba se desenvolvendo. O maior resultado que se pode tirar desta ciência, talvez a primeira do mundo, é a voluntariedade, o desejo de servir, a vontade de mostrar serviço. Como em todas as ciências e profissões do mundo, não se pode evitar que apareça um ou outro, se apresentando para satisfazer seu próprio ego, ou até para tirar vantagens pessoais de um mandato. O incrível desta ciência, contudo, é que até mesmo com esta intenção, o voluntário precisa mostrar algum serviço para atrair a atenção da comunidade e de um povo.

                                   E foi assim que Vazante, inicialmente habitada basicamente por fazendeiros da terra, começou a ver suas ruas ainda empoeiradas, sofrer com os cascos de cavalo que levantavam poeira trazendo movimento e o interesse pelo comércio, profissionais da construção e liberais de um modo geral, mas principalmente buscando um salário fixo das Companhias de mineração que se instalaram no município. Estas então, tiveram grande importância do avanço populacional, pois importava mão de obra especializada, cujo profissional incorporou na cidadania Vazantina, formando família e descendência hoje completamente participante dos destinos da cidade.

O PRIMEIRO GINÁSIO, DIRETORES E PROFESSORES


                                   Assim também que nasceu a primeira Escola oficial – Grupo Escolar Cândido Ulhôa, onde me lembro de Dona Conceição como Diretora e todos nós filhos da cidade estudamos um dia.  De igual forma, pela brava luta política dos representantes da cidade, nasceu o Ginásio Estadual de Vazante – GEV, mais tarde redenominado de Pedro Pereira, em homenagem a um dos pioneiros da cidade, o sr. Pedro Pereira Guimarães – o Pedro Chico.

                                   O então GEV, sigla azul, que se destacava no peito de nossas camisas brancas e calças azuis do uniforme de estudante e da mesma camisa e calção azul do time de futebol, foi uma enorme emoção para o povo. Afinal, seus filhos já poderiam fazer o “ginásio” em Vazante e o que era melhor, um ensino de qualidade, de graça que ainda dava emprego aos filhos da cidade, que retornavam formados. Sua primeira localização e de cujas emoções tenho lembranças é o prédio hoje destinado ao supletivo, em frente ao Hotel Estância.

                                   Não se pode relembrar do Ginásio naquele tempo, sem mencionar algumas pessoas que passaram por nossas vidas e deixaram marcas do conhecimento, do respeito e de amizades. Não posso me lembrar do Ginásio, por exemplo, sem vir à mente o grande e severo diretor Antônio Valeriano Corrêa, que parece ter nascido para o cargo e de Dona Terezinha Machado a Secretária firme, mas de voz suave, educada e cuja competência jamais foi questionada. 

                                   Correndo o risco de me esquecer de alguns professores, ou mesmo simplesmente dos nomes, embora me lembre de suas fisionomias, pelo que peço desculpas, gostaria de cita-los em singela homenagem de reconhecimento pelos bons serviços prestados a educação de minha cidade:

                                    Dona Conceição, professora de Geografia  e cuja tolerância, jamais foi imitada e Dona Leda, que salvo engano veio a substituir Dona Conceição, de uma simpatia impar; graças as duas,  desde então jamais me perdi no mundo; bom, confesso que não fui muito longe, mas me sinto bem orientado.

                                    Dona Dolores Rosa Solis, professora de Português, que até brasileiro ensinou – é brincadeira; o que realmente quero dizer, é que foi a melhor e mais importante professora de português que tive a honra de ser aluno; se até hoje vivo assassinando a língua, não foi culpa dela e sim da minha desatenção no embalo do raciocínio;

                                    Dona Vera Ferreira, professora de ciências, cujas argüições causava pânico aos alunos, pois não bastava saber, tinha que expressar e aí, “o bicho pegava!” - Vera, descobri que você marcava no relógio o tempo de argüição e então passei a te enrolar. Mas nas provas, não tinha jeito, tinha que estudar, estudar, estudar...

                                   Dona Ondina Guimarães, professora de Francês: - é meu filho, “nóis era chique” – Ces que ce? E salvo engano de desenho e..., não me lembro. Mas  volto a falar sobre a Ondina, já, já.

                                   O sr. Antônio Valeriano – o “doutor Antônio” além de Diretor, lecionava Inglês: How are you? Aluno piava fino.

                                   Tivemos um professor alto e magro de fora, que trabalhava na Cia Mineira e que no momento não me lembro do nome, que mais tarde foi substituído pelo nosso “ Walter da Dola”, que na época também era forasteiro e por isso precisava da referência da “Dola” nossa colega que todos conheciam e conhecem.  Bons professores, com metodologia de resumos esquemáticos no quadro, para que o aluno fizesse acompanhamento da matéria enquanto explicada.

                                   O Dr. Argemiro e o finado Dr. Américo, engenheiros da Cia Mineira, em períodos diferentes, foram professores de Matemática e depois foram substituídos também por outro engenheiro, não sei, da Companhia, cujo nome não me recordo. Só sei, menino é que saia fumaça nas quatro provas anuais. No terceiro ano tive de estudar para mim e muitos outros, com os quais passava horas nas ocasiões de provas tentando transferir o que aprendia,. Era bom, aprendia mais ainda.

                                   O Cabo Eurípedes (depois virou sargento) foi nosso professor de educação física e o preparo da moçada não era de brincadeira. Às vezes a gente pensava que estava cuspindo tijolo de tanto esforço e sede, quando as aulas eram no campo de futebol (de terra) onde hoje é a Rodoviária.

                                   Falo dos professores até quando ali estudei ou seja até 1971. De outros professores no momento não me lembro e peço perdão pela fraca memória. Porém se alguém fizer questão pode acrescentar

A FANFARRA – ate que enfim!

                                   Patos de Minas, onde cheguei a estudar um ano ou dois do primário,  era uma cidade referencial na região. Todo ano tinha aqueles desfiles lindos de 07 de setembro no qual, é claro, também desfilei. Aliás, abro um parêntese para contar sobre o meu desfile em Patos de Minas: no dia anterior era só expectativa! No dia do desfile, levantamos cedo (eu, Jose e João Bento) e preparando para as longas horas de desfile, devoramos um belíssimo bolo, assado especialmente para a ocasião. Desfilamos, mas do meio para o fim, foi só sofrimento! Acontece que um irresponsável açougueiro vendeu banhas de um porco não castrado (inteiro, como se diz) e aquele bolo começou a se revoltar dentro do estômago... Vou poupá-los dos detalhes!

                                   Mas voltando a fanfarra, ao que me lembro a Dona Ondina foi uma das principais pessoas incentivadoras, na criação da fanfarra. Olha, eu era desligado demais com as questões  administrativas da escola e não me recordo ou nunca soube mesmo, como foi conseguido todos os instrumentos da fanfarra: se houve contribuições particulares ou não, acreditando até que sim, mas o fato é que não foi fácil.  E quando chegaram esses instrumentos! Quem faria o que, quem soprava e quem batia?

                                   Eu só sei com certeza, que fiquei logo com um tarolete e que  juntamente com o professor de história que não me recordo do nome, a professora Ondina pagou muitos pecados de uma só vez, tentando ensinar aquela turma tocar instrumentos e rítimos,  que alguns sequer já tinham vistos – é mole?  Foi muito barulho, os professores corriam contra o tempo, pois o sete (7) de setembro estava chegando e o Ginásio jamais poderia fazer vexame. Imagine, logo o Ginásio!

                                   E as balizas?  Lembro-me bem: escolhidas entre as meninas mais bonitas da cidade deram um show de beleza e competência. Esta foto eu tenho das garotas com saia branca e curta e blusa, salvo engano dourada; mas não interessa a cor da blusa, se do rosto bonito os olhos desciam direto para as saias! Que saias bonitas, sexys e que movimento de pernas! Pena que só via nos ensaios, pois no dia, lá estava eu na frente, de calça azul e camisa branca, tudo bem passado, concentrado e descendo a madeira no tarolete.

                                   A rua larga, empoeirada, mas brilhando no sol quente, estava enfeitada como nunca estivera antes: rapazes, moças e crianças (do Grupo Escolar) desfilavam para seus pais, seus amigos e acima de tudo para si, para seu orgulho de pertencer a primeira fanfarra de Vazante. Os professores ali preocupados para dar certo, orientando, corrigindo... e o povo aplaudindo! Afinal era um dia diferente na cidade.

                                   Deu tudo certo, o desfile foi um sucesso, as comemorações foram muitas e alunos, professores, pais e povo em geral foi só felicidade. São pequenos atos heróicos que fazem da vida motivos de orgulho e realização.  Estou certo, que por mais diligente que fosse o GEV, não teria um fato tão relevante para ser lembrado. Considero um pouco de heroísmo da direção, dos professores, dos alunos e mesmo dos pais, dessa fanfarra. A época era dura, de pouco dinheiro e poucas oportunidades, assim como difícil era localizar e pagar o preço de cada instrumento. Outrossim, talvez ainda mais difícil, foi todo aquele esforço em formar, da noite para o dia, cada membro da fanfarra e fazer com que fossem coesos e bem treinados, como se já fossem veteranos.  Parabéns. A todos que de alguma forma contribuíram com a primeira fanfarra de Vazante, mesmo que eu não tenha me lembrado ou não saiba.

FILHOS DE VAZANTE


                                    Gostaria de encerrar este depoimento, repetindo o que sempre disse em relação aos filhos de Vazante, que estudaram no antigo Ginásio Estadual em nosso tempo: são motivos de orgulho. Quem pode ou preferiu ficar,  se casou, constituiu família e construiu sua vida com honestidade e respeito.  Quem não pode, como eu que havia perdido o único emprego e não tinha casa e nem pai para me sustentar, bem como aquele que mesmo podendo ficar, preferiu sair em busca de formação, também findaram dando bom exemplo. Demonstraram fora de Vazante, suas boas origens, honestidade e obstinação para vencer.  E também venceram, pois constituíram também suas famílias, são bons pais e com diploma superior ou não, mostraram que são dignos e vencedores.  Não se tem notícias de marginais tanto entre os que  ficaram quanto entre os que partiram. Pelo contrário, todos gozam de credibilidade e respeito por onde passam, apesar de alguma “picuinha”, que normalmente não falta.  E muitos, dentro daquele espírito de voluntariedade têm se apresentado para ser útil em sua cidade. Alguns chegam lá, outros não conseguem, mas nem por isso deixaram de se apresentar no intuito de servir. Parabéns pais, pela formação que deram a seus filhos. 

Vazante, 25 de outubro de 2006



Pedro Alves da Silva
  (Pedro Bento)


Obs.: a época escrevi este pequeno artigo a pedido da amiga, professora Marly Matos, irmã de minha grande amiga Marlene Matos, esposa de meu sincero amigo Paulinho mecânico – que atire a primeira vela ou bronzina aquele que for seu inimigo!